Nem só de treino e sacrifícios se faz um atleta. Os horários regrados, hábitos de vida equilibrados e uma nutrição adequada, são igualmente parte da chave para uma prática bem-sucedida. A nutricionista Ana Pinto acrescenta ainda outras notas.
Conhecemos casos de atletas que parecem nascer para o desporto que decidem praticar profissionalmente, assim como aqueles que têm de trabalhar mais para lá chegar. Também é possível perceber que há corpos que mudam consoante a atividade praticada e outros que já mostram a adaptação necessária ao desporto escolhido. As diferenças podem determinar uma melhor prestação, ou não. De qualquer forma, uma vez garantida a capacidade física, entram em campo todas as outras variantes: o treino, as doses certas de descanso, uma vida equilibrada e uma nutrição adaptada às necessidades do esforço físico indispensável.
O BORREGO E AS PROTEÍNAS ANIMAIS
Se é verdade que tem havido um movimento de desportistas vegetarianos, continua a ser importante que – qualquer que seja a sua dieta – garantam o aporte de nutrientes indispensáveis à sua saúde. No caso da carne, sabemos que é uma fonte de proteínas que não pode ser descurada. Segundo a Tabela Portuguesa de Composição dos Alimentos (INSA) a carne de borrego (carne de ovinos com menos de um ano) apresenta um grande valor energético – devido à quantidade de gordura – sobretudo se a compararmos com a carne de vaca e de frango. É uma fonte de proteína magra de qualidade, assim como de aminoácidos essenciais.
«O borrego é uma fonte de alta qualidade de proteína magra e aminoácidos essenciais, elementos necessários para o crescimento e manutenção do corpo, e fatores fundamentais para o crescimento de músculos, órgãos e tecidos em geral.»
Ana Pinto, nutricionista, autora do método Nutriaging
“Nem todas as peças de borrego fornecem o mesmo tipo de nutrientes, pois vai depender da sua dieta alimentar, idade e sexo, pode dizer-se que a carne com menor teor de gordura, ou seja, que traz maiores benefícios à saúde humana, é proveniente dos animais criados no campo”, refere Ana Pinto, nutricionista, autora do método Nutriaging. No entanto, na maioria das condições – e quanto mais saudável for a sua criação – fornece vitaminas e minerais, gorduras saturadas, monoinsaturadas e poliinsaturadas. Conforme esclarece a nutricionista: “o CLA (ácido linoleico conjugado), por exemplo, é um grupo de ácidos gordos poliinsaturados, (ácido gordo essencial), presente na carne de borrego, produzido pelas bactérias no intestino de animais ruminantes” e é considerado benéfico para a saúde, “como modulador no metabolismo lipídico, pois possui um efeito termogênico, estimulando o gasto de energia e a “quebra” de gordura corporal, promovendo a perda de peso”, diz. Por sua vez, “o aumento do metabolismo estimula a força, melhorando o desempenho durante os exercícios”, acrescenta Ana Pinto.
O mecanismo de ação deste ácido CLA resulta da inibição da enzima lipoproteína lipase, responsável por metabolizar a gordura e armazená-la nas células. Uma vez que inibe a acumulação da gordura, esta é reencaminhada para as células musculares e utilizada para produzir energia.
LESÕES E CIRURGIAS
Se está provada a vantagem da carne de borrego na nutrição do organismo de um bom atleta – nos bons momentos –, é igualmente fácil perceber o seu poder “curativo” nos maus momentos. Por ser rica em ferro – determinante no transporte de oxigénio no organismo, essencial para a produção de energia e para o sistema imunitário –, pode ser uma boa aliada na recuperação de uma cirurgia, sobretudo se esteve envolvida alguma hemorragia mais séria. É também essencial para otimizar a cicatrização, pois, na digestão das proteínas, formam-se os aminoácidos, como a arginina, que está envolvida no processo de cicatrização e na síntese do colágeno – vantajosa ao impedir a perda de massa muscular, por exemplo.
Para os atletas que tinham sofrido lesões, esta carne pode ser igualmente incluída no menu, já que as proteínas animais são blocos construtores, ou anticatabólicos – ou seja impedem a degradação dos músculos na função de fornecimento de energia ao organismo. A carne de borrego possui ainda fósforo, um mineral benéfico para os ossos e para as nossas defesas, assim como o zinco, importante apoio do sistema imunitário.
O período de recuperação de uma lesão ou de uma cirurgia, por mais que custe a quem não consegue estar parado, não é uma altura para fazer dieta ou acrescentar restrições à sua alimentação. É, sim, a altura de ajudar o corpo a recuperar a forma. Siga o conselho dos médicos, dos nutricionistas e de um bom chef – desta forma será sempre possível juntar o útil ao agradável.