Na maturação “dry-aged”, a meia carcaça continua suspensa por mais algum tempo, que pode ser uma semana ou mesmo 15 dias.
Animais, Raças e Carcaças
Carne Maturada
- Nas prateleiras dos supermercados;
- Em pequenos frigoríficos de apoio aos Talhos das grandes superfícies separada das restantes carnes;
- Nalguns talhos de prestígio que a consideram como um elemento diferenciador na oferta;
- Em muitos menus de restaurantes em especial nos especializados em carnes em que esta não costuma faltar.
Essa certificação também é válida internacionalmente desde que o restaurante em causa possa ser auditado pela organização ou pelos agentes certificadores. São os famosos bois massajados com cerveja e que ouvem música clássica! Em Portugal não existe nenhum restaurante com essa certificação.
O que se se seguiu depois foi o que já se tinha passado com as raças Aberdeen Angus ou Hereford. A sua popularidade transbordou fronteiras e os bois Wagyu passaram a vir quer da Austrália quer dos EUA. Grande parte da carne Wagyu que comemos em Portugal vem sobretudo da Austrália.
Mas o que é a carne maturada afinal?
Dry Aged
Como seria de esperar, este processo gera quebras de peso significativas ao longo do tempo pois ao perder humidade, a carne pede peso, logo o seu custo aumenta consideravelmente.
Assim sendo, é natural que esta mais valia da carne seja valorizada nos cortes mais nobres como a vazia e a ponta do acém, eventualmente na alcatra. Ou seja, dificilmente o produtor mantém a meia carcaça suspensa por mais de 15 dias, pois a perca de rendimento vai afetar toda a carne por igual, aumentando o custo dos cortes menos valorizados nos quais o benefício da maturação é mais difícil de valorizar. Quer dizer que ao final desse tempo ou menos, a meia carcaça é desmanchada, passando os entrecôte completos (vazia mais ponta do acém) para prateleiras onde podem continuar o processo de maturação que chega aos 60 e mais dias (chega a haver carnes maturada com 150 dias!!!).
Logicamente o preço pode subir estratosfericamente com o tempo de maturação, por força da perda de peso (pode ultrapassar mais de 35% do seu peso em fresco) e do capital empatado.
Este processo quando se desenvolve nestes cortes gera uma cobertura de fungos nos seus topos. Isso não quer dizer que a carne esteja estragada, antes pelo contrário! Esses fungos complementam sim o processo enzimático tornando a carne mais macia e amplificando o seu aroma. A carne ganha aqui nuances de sabor entre o doce, o salgado, ou o “cheesy” pois os processos de maturação dos queijos levam à formação de bolores com nuances idênticas. Essa crosta de fungos é aparada no final antes de a carne ser embalada ou cozinhada. O embalamento das peças é comum ser em ráfia e não a vácuo.
Wet Aged
O outro processo conhecido de maturação é o chamado “wet-aged” no qual a carne fresca passa para vácuo e assim se mantém por um período definido pelo produtor que pode variar entre as semanas e os vários meses.
Também teremos que acrescentar que estes processos enzimáticos na carne embalada a vácuo não tem a amplitude e profundidade dos “dry-aged” por isso podemos afirmar que não é de todo a mesma coisa.
Assim, uma carne que seja magra não faz qualquer sentido que venha a ser utilizada para maturação. Estão naturalmente excluídos os animais mais novos, nos quais a carne já de si é mais macia, não acrescentando qualquer valor ao processo. Isto também é verdade em relação a cortes que são naturalmente mais magros e macios mas que provem de animais criados para maturação. É o caso dos cortes do Lombo, que são já de si muito tenros e magros e que se situam no lado exterior da costela. Quer isso dizer que a sua sobre-exposição à maturação envolve uma significativa perda de peso e secagem da carne, depreciando consideravelmente o seu valor.
Daqui poderemos afirmar os tipos de bois que mais se adequam à maturação são precisamente as novilhas ou os bois que foram castrados. Como atrás referimos em ambos os casos, a castração, envolve mais docilidade e menos exercício contribuindo para a fixação da gordura intersticial que se expressa por um bonito marmoreado da carne que atesta essa aptidão. O mesmo resultado é obtido com novilhas. Também uma maior idade dos animais contribui para um sabor mais pronunciado e que é suscetível de ser reforçado pela maturação.
No que nos diz respeito, ou seja, nas raças autóctones britânicas, os factores fundamentais para a internacionalização das raças Aberdeen Angus ou Hereford é precisamente para o desenvolvimento dessa aptidão para a carne ser marmoreada conjugada com a adequada estrutura óssea do animal que permite desenvolver peso, densidade muscular e deposição de gordura.
A decisão de importar as raças autóctones inglesas brilhantes pela sua estrutura e conformação, significa que depois essa estrutura é preenchida com mais gordura intersticial que se desenvolve com mais intensidade com recurso a alimentação com cereal, que é comummente referida como sendo “grain fed” por oposição a “grass-fed”. É a mesma situação que se passa no Japão cujo processo leva a resultados extremos na raça Wagyu. O sabor da carne é mais acentuada pelas suas notas amanteigadas.
Daí que poderemos dizer em jeito de conclusão que, Wagyu à parte,
as raças autóctones britânicas são as que melhores resultados podem dar se o objectivo é produzir carnes maturada. No caso dos animais criados no UK, a sua alimentação a pasto permite o desenvolvimento de sabores com nuances mais complexas e diversificadas, acentuadas por uma finalização com cereal (grain-fed) para permitir a deposição da gordura com o desejável aspecto marmoreado.